Wednesday, October 28, 2009

Senhor Treinador


Amigo Paulo... agora... já não dá mais pá. Sinto-me envergonhado e vergado ao peso de uma estrutura em colapso. Para teres uma ideia aproximada, sinto-me como aqueles tipos do Soltem a Parede, ridiculamente vestidos e em poses embaraçosas, esperando escapar milagrosamente ao previsível atropelo. Atingimos uma situação insustentável (cá está, novamente, o malvado prefixo) e parece-me que o melhor para todas as partes seria, que abandonasses o comando da equipa. Sei que ainda não o fizeste porque acreditas piamente que tens capacidade para inverter a situação. E só por isso. Sei que não se trata de estúpido orgulho. E sei-o porque és um tipo com carácter e honestidade para além de quaisquer dúvidas; porque, como bastas vezes demonstraste, para ti o Sporting está sempre acima de qualquer interesse pessoal. Mas, Paulo... olha para o futebol que praticamos, pequeno e amorfo como um grão de areia, olha para as bancadas, quase tão desertas como o Sahara, olha para a ilusão dos adeptos - ténue como uma miragem, sente a dor das pessoas - como se tivessem pousado o rabo num cacto, e lê os títulos da imprensa - parecem veneno de cobra produzido em cérebros de camelos. É como disse, sei que acreditas mesmo. O problema é fazer os outros acreditar também. A descrença é enorme e, mais do que qualquer outra coisa, importa devolverem-nos a ilusão. Neste momento, qualquer exibição menos má da equipa será classificada de horrível. Qualquer passe errado, golo falhado ou sofrido, será motivo para vaia. Qualquer frase proferida será razão para protestos. Consegues ver por este prisma? Eu, como muitos outros Sportinguistas, ponho em causa a tua competência. Acho que tenham sido 4 anos de futebol miserável e o teu ciclo no Sporting chegou ao fim. Sem dramas. Acontece aos mais célebres treinadores. Basta lembrares-te de exemplos recentes como o rasgador-de-camisolas no Chelsea ou Ancelotti no Milan. Houve desgaste, acabaram por sair. E estou certo que, mais ano, menos ano, ver-te-ei na liderança de, por exemplo, um FCPorto. Se assim acontecer, podes crer, serás assombrado por este fantasma. Mas, se vieres a vencer o campeonato, no meio da tristeza pelo facto de não ter sido o Sporting a conquistá-lo, guardarei uma pontinha de alegria por ti. Nessa altura, aos doutos que trincavam losangos, mastigavam pentágonos, deglutiam a quadratura do círculo e cuspiam na tua geometria, a esses poderás dizer:
"- Agora chupem-me o cilindro."...

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