
O Jogo
Não foi um mau jogo, houve intensidade, velocidade e emoção, mas a verdade é que um clássico sem o sal dos golos, sem expulsões, sem penáltis, sem casos, dificilmente resistirá muito tempo nas nossas memórias, o empate não podia ser mais justo, as equipas equivaleram-se, quer nas oportunidades criadas, quer nos minutos em que fizeram prevalecer algum domínio em campo. O Sporting começou melhor, o Benfica equilibrou e acabou o jogo por cima. Quem esperasse um Benfica esmagador e um Sporting a rastejar por piedade, ter-se-á surpreendido. Não foi o meu caso, que me recordo de uns quantos derbys, e já vou sabendo como estas coisas são. Trata-se, na verdade, de um jogo especial, e obviamente seria de esperar que o Sporting à procura de uma nova identidade, se apresentasse à altura da ocasião, equilibrando a contenda. É um facto que o Benfica já foi mais brilhante nesta temporada, e que o Sporting já esteve muito pior. Mas também já era de prever, olhando à conjuntura de ambas as equipas, e olhando aos seus últimos resultados, que tais diferenças se vissem algo esbatidas nesta partida. É inquestionável que o empate, não passando disso mesmo, é mais penalizador para o Sporting, que com mais estes dois pontos perdidos fica praticamente arredado da luta pelo título (o que não seria líquido em caso de triunfo). O Benfica vai continuar à frente do Porto, vê o rival de Alvalade manter-se à distância, resta-lhe menos uma jornada, e dos três principais adversários (Porto, Sporting e Braga) só lhe fica a faltar ir ao Dragão, justamente na penúltima ronda...
Observações
Não entendi o deslocamento que, a dada altura, Jorge Jesus fez de Aimar para o flanco direito. Coincidiu com o reequilibrar do jogo, é certo, mas retirou dele o Argentino, que ameaçava, nos primeiros minutos, poder fazer uma grande exibição. Por outro lado, foi quando Ramires regressou ao flanco direito que o Benfica assumiu definitivamente o controlo da partida. Seria dele, aliás, a melhor oportunidade de todo o jogo, quando aos 84 minutos falhou um desvio que parecia fácil para uma baliza deserta...
Já a estratégia de Carvalhal de colocar Vukcevic na zona de acção de César Peixoto não resultou, quer pela boa exibição do ex-bracarense na primeira parte, quer pela total desinspiração do montenegrino ao longo de todo o jogo, diria mesmo, ao longo de toda a época...
E já que se fala em individualidades, além dos já referidos (guarda-redes e defesas centrais, de entre os quais Sidnei surpreendeu pela positiva face aos seus últimos desempenhos), diga-se que João Moutinho e Miguel Veloso foram os mais influentes no Sporting, enquanto Ramires, Javi Garcia e Saviola (além de Aimar, enquanto esteve na sua posição) destacaram-se ligeiramente num Benfica, onde, à excepção de Quim, ninguém jogou muito bem, e ninguém jogou muito mal...
Olhando para o copo meio vazio, também se terá de notar que nos últimos quatro jogos o Benfica apenas marcou um golo, o que pode ser sintomático de uma certa quebra longe de ser dramática, pois a temporada é longa e será inevitavelmente feita de altos e baixos, esperando-se que os baixos permitam, ainda assim, resultados como um empate em Alvalade...
Ontem fiquei com a sensação que muito havíamos perdido:
Perdemos o pontapé para a frente...
Perdemos o medo de ter a bola...
Perdemos a aflição nos cruzamentos...
Perdemos a tremedeira nos lances de bola parada...
Perdemos a individualização do nosso jogo;
Perdemos a desorganização...
Perdemos a previsibilidade...
Perdemos a falta de empenho...
Perdemos a imagem de falta de comparência que tantas vezes espelhámos...
Perdemos a desunião entre a equipa e os adeptos...
Perdemos a falta de temor com que já nos encaravam os adversários...
Perdemos, do ouvido, o grunhido da cagança vermelha...
Pode parecer paradoxal - não sei se sentiram o mesmo - mas reflectindo sobre estes prejuízos, acabei por sorrir , invadido pela sensação que terminámos a noite a ganhar...